TEXTO 07
No texto passado, afirmei
que uma crítica é sempre ruim, e que poderia parecer contraditória minha
afirmação, porque a crítica construtiva constrói. E hoje, nesse texto vou
demonstrar que esse tipo de crítica é ruim e boa, e também vou começar a justificar
um pouco do título do texto 06, que fará sentido por completo somente no
próximo.
Para quem não sabe entrei
na faculdade aos 17 anos e comecei a cursar direito, durante o curso fiz quatro
estágios diferentes (PROCON, VEP, NUJUR e CEJUS). O primeiro órgão de Proteção
e Defesa ao consumidor como atendente jurídica, onde passei dois anos
resolvendo problemas dos consumidores. Depois fui para Vara de Execuções
Penais, no gabinete do juiz, onde eu proferia despachos deferindo ou negando
pedidos dos advogados, e auxiliava em algumas audiências, durante um ano e
meio.
Após, fui fazer estágio no NUJUR (Núcleo Jurídico do Banco do Brasil), onde
passei a estagiar na área da advocacia bancária, nesse setor tinha como regra
pegar causas somente com valores acima de dois milhões de reais, um baita
desafio.
Como se não bastasse ser algo de grande responsabilidade, pela primeira vez me
deparei com um chefe absolutamente crítico, exigente, inteligente e sarcástico.
A minha primeira peça processual foi uma contestação, e, ao ler a peça por mim
elaborada meu chefe proferiu a seguinte crítica, com ar de indignação, de uma
forma muito severa, afirmando:
“Você não serve para ser
advogada, você não nasceu para isso, você não tem riqueza de vocabulário, nem
argumentos, com isso aqui você não convence juiz algum, e não ganha causa
alguma. Acho que você vai ter que ser juíza, pois é só analisar o pedido e
deferir ou não, o que você já estava acostumada a fazer”.
Naquele momento eu me senti
diminuída, ofendida, me deu um nó na garganta, o choro ficou entalado, foi um
mal estar tão grande, que minhas mãos tremiam de tão nervosa.
Como meu mecanismo de defesa nunca foi muito forte e eu estava me sentindo
triste e detonada, não fui capaz de dizer a ele que eu estava lá era justamente
para aprender, e que eu não nasci sabendo nada, que ele não tinha o direito de
falar daquela maneira comigo.
Dessa forma, eu disse a ele apenas “Sim senhor”, engoli o choro, abaixei a
cabeça e sai da sala dele.
Veio um turbilhão de pensamentos na minha mente, chorei escondido e pensava
sobre aquilo que ouvi, será que eu não iria jamais conseguir ser advogada?!
Sendo que dediquei anos da minha vida a isso?!
Por um momento aquela crítica me destruiu, garanto que nao foi fácil absorver
aquilo que ouvi, mas eu sempre gostei de desafios, então para mim, só servia
mostrar para ele que eu era capaz, que ele estava enganado ao meu respeito, que
eu não era apenas um ser sem conteúdo intelectual, e que eu era capaz! Estudei,
pesquisei vocabulário, gramática, coesão, coerência, escrevi e reescrevi,
principalmente li, aprendi a montar peças processuais excelentes,
principalmente recursos. Um mês depois, no dia da minha avaliação ele disse que
eu surpreendi muito ele, que eu tive uma evolução extraordinária em pouco
tempo, ele me deu os parabéns. Desde então passou a elogiar minhas ideias na
forma de defesa (eu conseguia achar a jurisprudência exatamente como ele
queria), e aprendi a fazer citação e ligação de um parágrafo a outro, para não
ficar sem nexo.
Bom, ele destruiu meu emocional por um momento, foi horrível. Entretanto ele
transformou meu intelectual, e se hoje escrevo bons textos, os quais recebo
vários elogios, eu devo isso a ele. Se ele não tivesse me lançado aquela
crítica, talvez eu não teria a capacidade de estar aqui escrevendo para vocês
agora.
Por isso eu continuo a afirmar que a crítica construtiva ela é ruim, pois
inicialmente precisei sofrer e processar aquela informação, e afirmo ainda que
ela é boa, depois de saber lidar com ela e transformá-la em algo bom.
Hoje acredito que tenho argumentos para convencer quem eu quiser (sem
prepotência, mas confiança no meu ser), e também que tenho um grande potencial
como advogada, vez que por onde passei dei o melhor de mim e só recebi elogios
quanto ao meu trabalho.
Por não querer que meus
amigos leitores sofram com certas críticas, e não consigam lidar com elas,
deixo uma reflexão/incentivo para vocês com o trecho da música “Mais uma vez”,
escrita pelo compositor Renato Russo:
“Nunca deixe que lhe digam
que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar...
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança...”
Gostaria de agradecer a
ele, melhor crítico que passou pela minha vida, por ter me empurrado para
frente sem querer, por ter me ensinado o que significa a palavra doravante (uso
ela todos os dias, não na escrita, mas mentalmente), e por todas as correções
chatas e minuciosas, por me ensinar a ser detalhista e caprichosa, e por me
fazer exigir o melhor de mim, mesmo sem ter tido a intenção.
Por fim, digo que a crítica construtiva fortalece, e a crítica destrutiva, será
que ela mata?!
Continuem acompanhando.
Autora: Juliane Nunes
Soares
Snap: julianens
Instagram: julianens
Foto
da minha solenidade, presidente da OAB me entregando a minha carteira de
advogada.
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